terça-feira, 4 de junho de 2013

Ela não tem jeito!

Ela não tem jeito: sabe que é de veras bela, e por isso desfila boçalmente como forte rajada de luz do sol a todos cegar. 
Balança os cabelos como quem nada pretende, apruma o broche que leva preso à blusa, peteia as sobrancelhas disfarçadamente com a ponta do dedo anelar da mão direita, e segue a desfilar como se fosse um “manga-larga machador” de pura raça, - jamais contando com a velhice do porvir -, com peito estufado e cheio de vida, andando com extrema altivez.
E eu, aqui de longe, finjo que em nada sou abalado! Finjo caminhar rápido e desapercebido, quando na verdade estou de olhos vidrados nessa tão formosa dama, que mais parece atrair-me como um imenso ímã que puxa avulsa pregos soltos caídos n'algum rincão. 
Ela não tem jeito! Será que consegue amar? E quem será o rico cavalheiro que a honra tem de ser seu par? 
Oh, que inveja tola! Como posso eu prestar-me a tais pensamentos?!
Continuo o meu caminhar e busco no firmamento ver o sol ou as nuvens, a fim de consolar-me sobre o fato de que há coisas no universo que foram feitas só para serem olhadas, e nada mais.



Ferdinand Personne

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