Teu sorriso extremamente branco e singelo continua na minha memória, bem como as "covinhas" que se formavam em tuas bochechas quando sorrias tão timidamente.
Sempre foi assim, Deyne. Eu me lembro... Na escola, na igreja e na rua quando nos cumprimentávamos. Sempre houve um brilho especial em tua bela face juvenil.
Lembro-me que tive a honra de dirigir o grupo das crianças de nossa congregação onde tu e teus irmãos faziam parte. Era cansativo ter de ensaiar todos os domingos à tarde, mas eu adorava ver aquelas 20 crianças "louvando" a Deus pela vida, pelo dia, por tudo...
Uma paz imensa invadia nossos corações, e o meu especificamente, era habitado por uma sensação de dever cumprido. Eu me sentia especial.
Crescemos. Você foi transferida para a grupo da Mocidade, onde eu também participava. Eu atuava nos dois a partir dali.
O tempo passou, amiga, e eu mudei muito. Todos os meus conceitos sobre fé, humanidade e vida foram-se mudando, mas você permaneceu na igreja como sempre: Admiravelmente firme e forte!
De repente ao chegar cansado da faculdade nesse dia 27 de março de 2012 um telefone me informa teu falecimento, tua ida sem volta.
Fui tomado por lembranças de um período marcante em minha vida, onde tua alegria e presença são inesquecíveis.
Caminhei com chinelas nos pés até tua casa, e lá encontrei teu sono profundo e silencioso... Lágrimas escondidas eu via nos olhos de tua família. Me vi pensativo sobre os motivos... Intrigado eu me perguntava "o que aconteceu?"
Descobri que penaste uma semana em nosso formidável SUS, aqui no Mendo Sampaio. Não gosto nem de falar desse hospital. É tenebroso demais!
Não cobrei detalhes, mas fui revelado que por estas complicações entrastes em coma... Em fim, Deyne, o fim então.
Uma semana antes de tuas complicações de saúde também sofri no hospital Samaritano. Meu problema não era nada comparado com a luta que travaste, mas minha inflamação nas amídalas que me provocou febre de 40°, teve de aguardar - na emergência - mais de quatro horas de espera numa cadeira que me obrigava permanecer sentado, sempre na horizontal, o que era desconfortável... Eu peguei no sono, e acordei assustado com os gritos que diziam: "Gleydson, Gleydson... É a sua vez!"
Senti-me um cachorro abandonado à minha própria sorte. E se minha pressão estive muito alta? Eu poderia ter morrido antes mesmo do atendimento! Detalhe: meu plano pagava por este atendimento. Não era o Governo, como no teu caso, mas juro que não sei qual dos dois meios de se buscar a cura é pior neste País cancerígeno.
O bando de filhos do demônio já estão veiculando promessas na TV e todos os outros meios de comunicação. Já estão dizendo, de novo, que nesse governo priorizarão a saúde e a educação, mas que para isso precisam de nosso voto obrigatório!
E se aliam a padres mal intencionados, a pastores de mesma índole, a empresários surrupiadores e traficantes para articularem, nos bastidores, "a grande vitória". A vitória do povo, querida. A tua vitória, a minha vitória, a vitória de minha família inteira.
O que as bestas feras que "cuidaram" de ti fizeram? Quais foram os aparelhos de ponta utilizados? Como estava o efetivo dos plantões e o grau motivacional da equipe médica, já cansada como nós, de um sistema de saúde falido e fadado ao fracasso?
Mas o bom é que tivemos educação, Deyne. Nossa quadra continua esburacada há 05 anos e com as telas de proteção enferrujadas, com crateras no piso e drogados à noite.. Mas a quadra continua lá. A escola Tancredo Neves continua lá: não há sala de informática, querida, nunca houve eu sei. Mas veja pelo lado bom: trocaram "giz" por "marcadores", e o quadro negro pelo branco.
É certo que as cadernetas teimam chegar somente em julho. Mas isso não é tão problemático: o professor passa uma ata pra gente assinar.
E a era digital e da globalização também chegaram: existem Lan Houses no bairro e cursos profissionalizantes no centro, pagos.
Eu sei que temos 04 vereadores eleitos em nosso bairro, mas creio que vivem muito ocupados arrumando suas casas de praia e trocando seus Uno Milles por Hi Lux's... "Hi Lux's"... seria assim o plural? Em fim, não sei ainda. Amanhã eu pesquiso no Google porque nesse momento não estou com saco.
Deyne, sinto muito por nossa saúde ser tão ruim. Não se preocupe, você não será mais vítima de nenhum deles, eu prometo. Vai em paz com Deus, como sempre estivestes. Sentiremos muita saudade de ti, e de teus belos 20 anos de idade.
De teu amigo,
Wan
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