quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Big Brother Brasil sob a ótica de Veríssimo

Luiz Fernado Veríssimo - Cronista e Escritor Brasileiro.
Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. A nova edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.

Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB  é a pura e suprema banalização do sexo.

Impossível assistir ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, héteros... todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterossexuais. O BBB  é a realidade em busca do IBOPE. 

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido”. Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.

Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados.

Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo dia.

Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, Ongs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns).

Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!

Veja o que está por de tra$$$$$$$$$ $$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.

Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores)

Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema...., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construído nossa sociedade.


Leia a biografia de Luiz Fernando Veríssimo clicando aqui
Créditos da Biografia: www.releitura.com.br

Nota:

Esta crônica está sendo divulgada pela internet a milhões de e-mails. 
Faça o mesmo! Envie para seus amigos!

Agradeço a pezada professora Monique Becher pelo encaminhamento da presente crônica.  

5 comentários:

  1. poxa cara!
    estou pasmo , ele falou tudo que eu queria dizer mas não encontrava palavras.
    parabéns VERÍSSIMO e ao GLEYDSON GÓES.

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    1. Obg, meu capitao. Foi justamente isso que pensei que li esta cronica. Te mais!

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  2. Bah tchê! Trilegal a opinião do Veríssimo! Ele pôs na palavra escrita aquilo que está na mente de N número de pessoas que têm um mínimo de bom gosto cultural. Parabéns a ti também, mon petit, por ter postado esta pérola vinda o Veríssimo. Jusque brève!

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  3. Qual o propósito do desabafo de Veríssimo? Fazer com que as pessoas parem de assistir ao bbb ou diminuir a quantidade de ligações a cada paredão? Acho que não é de hj que a TV brasileira recebe bombardeios de coisas "desnecessárias" para pessoas com um alto conhecimento cultural. O bbb é mais um programa que existe para um público que se enteressa por ele. não que assitir não assiste. Acho que pessoas cultas se aproveitam do programa para promover o seu nome. Desculpem mas essa é minha opinião. E acho que Bial é um profissional, faz seu trabalho e ganha seu dinheiro, e isso não desqualifica em nada a sua carreira pois já conhecemos o seu potencial e por mais que questionemos, sabemos que acima de tudo existe o profissionalismo, ele está sendo profissonal. BBB é uma merda, mas as vezes é preciso cagar!!

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  4. Olá Sr. Amaral. Saudações!
    Antes de mais nada agradeço a exposição de seu ponto de vista!

    Como vc sabe a televisão tem um poder de influência nas pessoas altíssimo, mais do que deveria. Hoje em dia a TV dita a moda, os costumes, o que é belo e elegante, o que é legal, ultrapassado, etc. Os donos de emissoras de TV, como a Rede Globo, não querem nem pensar em um público "crítico", pois dessa forma a manipulação das pessoas não seria possível. Concordo sim que os artistas e intelectuais como Veríssimo "aproveitam do momento" para se promoverem. Mas, não é bem melhor a promoção da criticidade e da cultura, ao invés de a promoção do apelo sexual? O que vimos na primeira semana do BBB foi o cúmulo! O programa "dopa" seus participantes, incita ao sexo e depois de ganhar milhões com a pouca vergonha da uma de preocupado e ético, expulsando o "negão" estuprador. Concordo que precisamos "cagar" de vez em quando. Mas vale lembrar que nossas necessidades fisiológicas são feitas em locais reservados e não sob dezenas de câmeras do horário nobre da TV Brasileira.
    Bem, mas essa é o objetivo do Ponto de Vista na Rede: Vc expõe a sua visão e eu a minha. Essa troca de ideias é uma boa ferramenta para a formação de nossas opiniões! Forte abraço e comente sempre, meu amigo!

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