Juro que não sei se essa viagem foi boa, meu caro.
Na verdade minha admiração por ti sempre foi tão grande.
Fiz-me servo teu, intimamente. Atentei às tuas palavras e emudeci para pensar à respeito delas.
Mas no decorrer das horas algo não se encaixava.
O mais perverso é saber que tudo poderia ter sido uma grande ilusão da vida, que passa.
Depois do cair do pano senti-me um forasteiro a invadir lares alheios,
E a gargalhar espalhafatosamente minhas tolices desnecessárias e repetitivas.
No limiar da madrugada eu saí portas a fora a caminhar na orla, cuja atmosfera era sombria e fria.
A neblina cegou meus olhos e foi aí que caí de cara no chão.
Minha sorte foi perceber que o chão era de areia macia, assim como teu caminhar.
Em conversa com astros que consegui enxergar, a pesar da cegueira, fiquei sabendo que em ti sentimento mesquinho brotara.
E eu, sem entender o porquê de tamanha pobreza, resolvi subir naquele bote, que à margem descansava.
Agarrei o remo e fui-me embora pra dentro do mar. Para ver se conseguia refletir um pouco.
Então sobreveio tempestade de chuvas finas e ventos cortantes.
Acordei no outro dia, acredito eu, na ilha que Poseidon e Iemanjá haviam reservado para mim, muito possivelmente, sob forte luz do sol na cara. E ali permaneci por anos...
Aprendi a calar-me, pois os animais que me cercavam não falavam português ou outro idioma qualquer.
Nunca imaginei que minha barba cresceria tanto assim.
Além de crescer embranqueceram como meus cabelos da cabeça, e até do nariz.
Foi quando decidi não mais tentar voltar àquela orla onde o bote descansava.
Decidi atirar-me aos braços de minha ilha. Lá ergui um templo onde adorava a mim mesmo, como todos o fazem.
E assim respondia às minhas próprias rezas tão vazias quanto o simples fato de rezar.
Acho que aqui eu não espero mais nada...
A não ser o tempo passar, para voltar a ver a brisa que me cegou, e que me fez enxergar tudo isso.
Kurt Spörk
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