Com agulha de tricô nas mãos, dona Zezinha modela um mimo para o netinho do coração, o filho de Eduardo. Contou-me com algo de pesar nos olhos, que Eduardo, depois de ter virado pai, pensava ajuntar-se de vez com a mulher.
"Ah, como vai fazê falta, meu fio... Mas fico feliz porque ele tem que cuidá da família dele, né verdade?"
Eu meneava a cabeça positivamente...
"Lembro-me como se fosse há 14 anos atrás: Eduardinho passava com uma garrafa de plástico pra pescá... Amarelinho do cabelo enrolado, que só veno. Naquela época ele morava só com o pai, seu Agenor, num sítio distante. Foi quando João chamou ele pra pastorá boi mais os minino... Sabe? Teve uma vez que o bichinho pegou meu Omo e polvilhou por cima da roupa, rapai, estirada na beira do rio, pareceno uma tapioca com farinha por cima."
Dona Zezinha ri da lembrança.
"Aí eu peguei e disse a ele: meu fio, deixe uma parêa de roupa que eu lavo pra você. Foi a última vez que ele lavou roupa, meu fio. Já tá com 28 anos, meu rapaz... Seu Agenor disse que a mãe dele tinha ido embora quando ele completou 08 anos de idade. Pronto... Dali pra frente foi só seu Agenor e Eduardo. Sim, voltando ao assunto: como o sítio que ele morava era longe, ele passou a dormir lá em casa. Os anos se passou e o pai dele casou de novo, mas ele ficou com a gente. João, meu marido, gostava dele porque era um minino esforçado que só!
Aí, quando a gente se mudou pra cidade, por causa da barrage, ele veio também. Fico toda orgulhosa quando ele apresenta os minino como irmão e irmã... Me chama de mãe até hoje, e nunca deixou de me ajudar quando eu mais precisei, meu fio... Perto??? Eu sei que ele não vai pra longe. Mas o vento vive perto e ninguém consegue abraçá ele, né meu fio? Ha, ha, ha..."
Dona Zezinha faz silêncio por alguns segundos; quase exatamente 60 segundos.
"Qué mais café, meu fio?"
Passam das 16h30 quando tomei a última xícara de café. Volto pra casa sob chuva fina, sendo de longe observado pela velha avó, mãe e amiga dona Zezinha. Meu Deus, que café gostoso!
Dona Zezinha me fez ter "pena" do mundo inteiro, que caminha segamente, à passos longos, para o desenvolvimentismo, para o piso asfaltado quente e frio, para os produtos em escala industrial, para a massificação das pessoas, dos pensamentos, dos sentimentos...
Ah, dona Zezinha, quem dera o mundo todo fosse tão doce quanto teu coração, que só expira amor.
Gleydson Góes
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